Monday, September 03, 2007

Tudo tão certo!

Os movimentos irresolutos da nossa história em comum; um ranger de portas castigadas pelo vaivém das nossas incertas certezas; um

- Acabou-se!

tão seguro

tão determinado, tão determinístico

tão certo.

E se na curva do passeio, um som qualquer

trim

dling

qualquer

logo a mão à mala; ao bolso das calças

e um cuco cego num disparar de molas, cabeceando contra as costelas, procurando caminho para nos sair pela boca

porque de certeza que ele…

que ela…

Mas telemóvel algum

pelo menos na nossa mala

no bolso das nossas calças.

Até que por fim

Ti ri ri ri ri ri

na nossa mala

nas nossas calça

ele...

ela...

Porém

- Sim, mãe, eu não me esqueço!

- Népia, man, hoje não dá!

Até que um dia depois; sempre um dia depois. Quando o coração já arrítmico dos sobressaltos provocados pelos

trins

dlings

quaisquer

na curva do passeio

na nossa mala

no bolso das nossas calças

no mostrador do nosso telemóvel

um número conhecido, um nome, a embrulhar-nos o estômago como uma mão enorme. Um toque, dois, três… não mais, os suficientes para que do outro lado insegurança, os suficientes para aclarar a voz; os precisos para que a desistência não ocorra.

Um toque, dois, três

não mais

e um polegar ansioso a atender “distraído” num

- Estou?!

de quem: - “Oh, nem reparei no visor!”

distraído

de quem: - Oh, já nem me lembrava!”

- Estou?!

Cátia, Pedro

que importa!?

- Sou eu…

Cátia, Pedro

que importa!?

e um tempo suspenso, sem noção da necessidade de acrescentar

- Sou eu…

Cátia, Pedro

que importa!?

Enquanto do outro lado um

- Olá

Cátia

Pedro

cordial… amistoso… controlado: quase vazio de sentimento

- … como é que estás?

apesar de

um cuco cego

disparar de molas

contra as costelas

- Tudo bem. Olha, estou-te a ligar para te pedir uma cena.

- Diz.

- Hás-de ver se não deixei em tua casa o livro…

o dvd, o cd, a capa do telemóvel, a dentadura postiça da minha tetravó; o diabo que me carregue.

- Sim, está. Queres que to envie? - e um fazer de figas para que

- Não, deixa estar eu passo aí. Se não te importares, claro!

- Na boa!

Na boa, na boa, na boa, mil vezes na boa.

Ainda que, no entanto

- Mas quando é que querias passar por lá?

(porque por “lá” significa não estar agora em casa)

de pijama

deprimida

deprimido de roupão

e que a separação não nos amarrou de pulsos à cama com lenços de papel

embora no sofá, de pés debaixo da almofada, com o pijama dos ursinhos a que tu

- “Ficas tão querida!”

à frente da televisão, de pés nas pantufas de Koala a que tu

- “… tão querido!

a enchermo-nos de cigarros e de esperanças

de um chocolatito ou outro

a dizer

- …lá…

- …por casa?

porque não estamos nem aí, ainda que

um cuco cego

num disparar de molas… contra as costelas

a dizer

- Deixa-me ver. - como se ela muito que fazer. - Para a semana não me dá muito jeito.

(até porque uma semana é muito tempo e muita coisa pode acontecer… a contar pelo botões do comando)

- Achas que era possível passar por lá hoje?

- Hoje?

-Sim.

- Deixa-me ver. - como se ela, alguma coisa combinado; a contar pelos dedos dos pés, excitados debaixo da almofada. - Só se for lá para as sete. Por ti, pode ser?

- Perfeito.

Perfeito, perfeito, perfeito…

como

Na boa, na boa, na boa

num disparar de molas

num cabecear cego de cuco contra as costelas

(que bom!)

e nisto

- Então, vá, até logo Pedro.

e nisto

- Vá, até logo, Cátia.

e nisto

tudo a ficar certo

alinhavado, vá!

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