Monday, January 28, 2008

Assim é q’elas se apanham!

- S’é verdade? Pois ’tá claro q’é verdade! Mas eu sou lá de mentiras q’é ver! Ainda p’a mais num assunto destes: sério que só Deus!

- Ora! ’tou-lhe a dizer. Que me caía já um raio em cima se n’é verdade o que lhe digo. A Alicinha; si’ senhora! De sete mesinhos!

- Ah, pois é! E depois a minha é q’era uma assim e uma assado. Assim é q’elas se vêem. ’tá bem, ’tá! Tão certinha e coiso, e vai-se a ver no fim… sete mesinhos no bucho! Embrulha q’é Natal!

- E se não lhe tivessem rebentado as águas, o mais certo era ’inda ninguém saber de nada.

- Ó senhora, sei cá eu? O rapazito q’a andava a namorar - ainda há bocado o Zé Luís do café me disse - afiança que n’é dele. Olhe, meu é que n’é de certeza! Que s’eu os pudesse fazer e parir, nuca me tinha casado! Ai, cala-te boca!

- É milagre é! Você ainda brinca! Já lá vai o tempo em que s’emprenhava do céu, senhora! Deixe lá chegar o Matias logo à noite e vai ver o pé-de-vento que se levanta aqui na rua. ‘inda é capaz de lhe dar alguma solipampa, coitado! Sai um homem de manhã, pai, chega à noite avô! Palavra de honra q’isto até custa a acreditar.

- Atão mas isto admite-se! Sei lá que pais são aqueles, que têm uma filha prenha em casa - sete meses - e não dão por nada!?

- Mas isto pode lá ser?

- Isto ’tá muito mal contadinho! Eu é que não sou de intrigas, senão… dizia-lhe uma que me contaram de manhã no mercado q’até lhe caía o queixo!

- Quem foi não lhe posso dizer.

- Mas olhe q’isto não sai daqui, hã!? Diziam lá, q’a rapariga não disse nada em casa até agora, porque desconfia q’o filho é dum mulato com quem andou metida.

- Pela minha saúde!

- Mas pode acreditar! P’lo q’é mais sagrado nesta vida, que o ouvi. ’tou-lh’a vender pelo preço que me venderam a mim.

- Sei cá eu se é verdade ou não! Mas quando as vejo com muita carinha d’ anjo, o mais certo é trazerem o Diabo no pêlo!

- E depois a minha é q’era uma assim e uma assado. Só porque casou de barriga inchada. Olhe, pelo menos sabia quem era o pai! E já lá vão sete anos e é como se tivesse sido ontem.

- ‘tá bem, ’tá! Conta-me histórias, Carochinha! Mas é bem feito, q’é p’a não terem a língua maior q’à boca! Já a minha mãe dizia q’é é no melhor pano que cai a nódoa. É que no pano ruim não se nota, ou pelo menos não se dá importância. Agora no linho. Ai, ai, Jesus! Mas deixe lá chegar o Matias logo à noite, ou o cachopo nascer com a cabecita cheia de molas e vai ver o pé-de-vento que se levanta aqui na rua.

- Pois ’tá claro! Se ele diz q’o filho n’é dele, e consta q’era com o tal mulato q’ela se andava a encontrar às escondidas… Alguma coisa há-de o pobre rapaz saber do que fez. Ou não fez, que é mesmo assim. Olhe, valha-lhe S. Cornélio, q’é o padroeiro dos cabrões! Ai, valha-me Deus, q’até se me foge a língua para a banca do peixe. Mas até fico às manchas só de pensar no q’aquela lambisgóia da Doroteia andou para aí a espelhar quando a minha Carina Isabel engravidou. Língua de víbora. Agora q’é a filhinha dela, nem aí nem ui. Parece q’hibernou, a cobra.

- O rapazito, pelos vistos, é que se safou de boa! Saia-lhe a taluda daqui a uns tempos e depois é q’era gemer.

- Se ela sabia da filha não sei! Mas é bem capaz. Se calhar já não foi foi a tempo de a levar a Badajoz. Q’os espanhóis, por quinhentos euros - ouvi dizer - até a alma lhe raspavam. Que esses têm raça de ciganos. Por isso é que se ’tão a encher às nossas custas, como diz o meu Horácio.

- Bem, tenho de ir andando, que já é meio-dia e ’inda não fiz nada.

- Olhe, dona Amália, sabe o que lhe digo? E Deus queira que não me venha o castigo bater à porta! A verdade - sempre ouvi dizer - é que o peixe morre pela boca. Essa é que é essa! Umas santinhas, todas, mas com pezinhos de porco.

- De barro ou de porco, vai dar ao mesmo. É um chiqueiro de lama! Bem, até mais ver, então.

- Como diz?

- Ah, passo, passo. Fique descansadinha que não me esqueço. Depois da novela dou lá um saltinho.

- Até loguinho então, se Deus quiser.

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