Conheci-a em cada da Edite
festa de anos
chamava-se Odete e
como eu
estava sozinha.
A Edite, amiga de longa data
(do tempo já da 5 de Outubro, quando o escritório ainda rejeitava clientes, por “excesso de trabalho”)
sempre teve queda para padroeira do encalhados. De modo que
a não me admirar
se ela
- Tens de conhecer o Óscar.
falasse nestes termos à amiga
… Odete.
- Divorciado faz dois anos.
(trabalhinho arranjado pela padroeira Edite)
- Não tornou a ter ninguém.
Um caso ou outro mal sucedido, que a Madalena nuca saiu por completo lá de casa
ou de mim, quando eu lá em casa.
(mas esta parte a Edite a omitir)
apenas
- Divorciado faz dois anos.
e
- Não tornou a ter ninguém.
Pois o facto de a Madalena nunca (…) por completo…
…lá de casa
a fazer com que
de cada vez que uma mulher no 3º esquerdo
(não digo o número)
da Rua de Arroios
o fantasma da Madalena
- É impressão minha ou cheira-me a puta!?
e o amor
ou a carência que o parece
a sair gorado.
Duas apenas, em dois anos
uma por ano, numa análise estatística
embora nenhuma mais de duas semanas, que o fantasma da Madalena
(casada já, e com um filho que nunca lhe fui capaz)
a ironizar de nariz torcido
- É impressão minha ou cheira-me a puta!?
Por isso, quando a Edite
- É o Óscar. É a Odete.
o meu estômago a ficar nervoso
não por ela
mas porque a história a tentar de novo
e o fantasma da Madalena
“Alerta”
como um escuteirinho irritante
a
- É impressão minha ou…!?
razão porque eu
o meu estômago
a ficar nervoso
porque um homem
se homem
- Divorciado faz dois anos.
não tem como
- Não faz o meu género.
pois dá logo vontade de perguntar
- Ai não?! E que género é o teu?
No fim de contas foi a Madalena quem
- Quero o divórcio.
a Madalena quem
distante há muito
um pé dentro, outro fora
embora sempre
- É impressão minha ou cheira-me a puta!?
De maneira que
se eu
- Não faz o meu género.
capaz de os narizes todos
- Ai não?!
a torcerem as ventas
- E que género é o teu?
Pelo que
apesar do estômago nervoso
a passar a noite na conversa com a Odete. Diferente de mim: dia e noite, preto e branco, cara e coroa… alegre, gordinha, gargalhadas de copos pela cristaleira abaixo, enfermeira em São José, solteira
- … e boa rapariga.
como achou graça dizê-lo.
Toda ela clichés. Como eu todo clichés. Só que ela clichés alegres, gordinhos
vidros em estilhaços
e eu
cinzento, gravata azul, camisa sem cor, como as cuecas velhas do papá no estendal da marquise em Sete-Rios.
Mas a verdade é que
nessa noite
depois das velas e do champanhe
(porque qualquer gasosa é champanhe)
portanto
depois das velas e do champanhe
que o bolo a mim não me cai bem
nessa noite…
como hei-de dizer?
a Odete que
- Acho que já estou a ficar tonta!
a pegar-me no braço e, entre marteladas na cristaleira, a garantir-me
- Você é tão engraçado, Óscar!
a fazer-me sentir na obrigação de
- Trata-me por tu.
como se lhe levasse a mão ao interior da blusa e lhe soltasse a mola do soutien que lhe oprimia o peito
arrancando-lhe um suspiro
- Acho uma óptima ideia!
de maneira que
ao despedir-me
a Edite logo
- E tu, Odete, como é que vais?
puxando-me pela prontificação
e antes de a Odete
um táxi, ou coisa que o valha
eu logo
- Posso levá-la.
que na opinião da Odete
- … uma óptima ideia!
Num chover de copos pela cristaleira abaixo.
Há um mês que passa cá os fins-de-semana e já plantou uma escova no copinho da casa de banho. Ainda não é nada certo, mas há duas coisas que me fazem crer que é possível. Uma é a Odete não sair da cama a correr para ir lavar o amor ao bidé
não me rejeitando
não me expelindo de dentro dela para correnteza do Tejo
como as outras
a Madalena, talvez
não me lembro se a Madalena
depois de…
a Madalena
ou a torneira do bidé
numa cumplicidade secreta
para correnteza do Tejo
como as outras duas
que
mal acabávamos
- Vou só à casa de banho num instante.
Agora a Madalena não me lembro.
A verdade é que nunca um filho meu
(e agora
casada já, e com um filho que nunca lhe fui capaz)
dois abortos espontâneos
a própria palavra
espontâneos
a dizer tudo
a rejeitar-me atrasadamente
enquanto a Odete
depois de nós (…)
a ficar
gargalhando alto
por tudo e por nada um desastre de copos pela cristaleira abaixo
- És tão engraçado, Óscar!
a não sair da cama a correr
a não
- Vou só à casa de banho num instante.
a achar tudo
- … uma óptima ideia!
a rir
gordinha
feliz.
A outra coisa
das duas que me fazem crer que é possível
é o facto do fantasma da Madalena nunca mais
- É impressão minha ou…!?
uma pontinha de nariz
de vez em quando
torcido, é certo
mas nunca mais
- É impressão minha ou…!?
assustado, é possível, pelo estilhaçar de copos da Odete
que não acreditava em fantasmas nem em palermices e está cá
parece-me
para ficar
o que eu
de certa forma
até acho
- …uma óptima ideia!
Friday, December 19, 2008
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3 comments:
Antes de haver cheiro a puta, há falta de 3 letras. Descobre quais são ;)
Espero que saibas quem sou. Um abraço sincero.
Ah, e bom ano! (Raios partam o whisky, agarra-me as idéias e leva-as numa espécie de balão para a puta que as pariu.)
Muito bonito. Adorei!
Um beijo
Rosa
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