Friday, December 19, 2008

Segredo é segredo!

- Gostas das minhas maminhas?
 e eu a acenar sins com a cabeça
 a não dizer nada
 tinha jurado 
 não dizer nada
 quando a Ana Maria
 - Jura por Deus que não dizes nada a ninguém.
 e eu 
 que sim 
 com a cabeça
 que sim
 que não dizia 
 - … nada a ninguém.
 a cabeça por mim
 - Juro.
 “por Deus”
 (por quem mais)
 a cabeça, por mil palavras, como se dissesse
 - Fica só entre nós.
 porque a Ana Maria
 - Se jurares que não contas a ninguém, deixo-te mexer. Queres mexer, não queres?
 e eu logo
 que sim
 que sim
 com a cabeça
 “por Deus”
 que sim
 que queria 
 a não dizer nada
 jurado já 
 e a Ana Maria  
 - Gostas?
 e eu
 que sim 
 com a cabeça
 que sim
 “por Deus”
 - Juro.
 a cabeça por mim
 que sim
 que sim.
 Eu tinha sete anos e a Ana Maria… bem, não sei. Trabalhava lá em casa desde o meu aniversário
 Janeiro, portanto.
 Estávamos nas férias da Páscoa, quando ela
 - Queres ver as minhas maminhas?
 e eu 
 pela primeira vez 
 que sim
 que a cabeça 
 por mim
 que sim
 de cima da minha cama
 um verbo sequer
 nada
 a cabeça apenas.
 Eu 
 sete anos 
 e a Ana Maria… bem, não sei. Quando se tem sete anos a idade dos adultos é-nos confusa. E tirando os velhos, têm todos a mesma idade. Digamos que para uma criança de sete anos
 ou pelo menos eu com sete anos
 os adultos eram-no a partir dos quinze
 pelo menos o meu primo Ricardo já devia ser, visto fumar. Embora
  como a Ana Maria
 - Jura por Deus que não dizes nada a ninguém.
 quando eu
 no quintal
 com patinhas de gato
 o meu primo Ricardo
 - Jura por Deus que não dizes nada a ninguém.
 e eu
 com a cabeça
 “por Deus”
 (por quem mais)
 que sim
 que não dizia 
 - …nada a ninguém.
 Portanto, a Ana Maria, adulta, como os meus pais, o meu tio Almiro, a minha tia Cila, o meu primo Ricardo
 já que fumava
 quinze anos
 e me dizia
 além de 
 - Jura…
 - A tua empregada, puto, dá-me cá uma ponta!
 e eu acenava que sim com a cabeça
 sem entender ponta 
 como sem entender ponta quando
 o Ricardo
 a fazer-me companhia nas férias.
 Não a mim
 sei-o agora
 à Ana Maria 
 que 
 - …dá-me cá uma ponta!
 e por
 sei-o agora
 seio agora
 que
 (- Queres ver as minhas maminhas?)
 a Ana Maria
 dezoito anos, talvez vinte
 Quando se tem sete anos a idade dos adultos é-nos confusa. E tirando os velhos…
 a Ana Maria
 sei-o agora
 gostava mais de mim que do meu primo Ricardo, pois nunca lhas havia mostrado. Nunca lhe havia perguntado
 - Gostas das minhas maminhas?
 sei-o agora
 porque um juramento com a cabeça não vale, não é? Espero que Deus entenda assim
 que a Ana Maria entenda que sim
 um descuido
 como um espirro
 juro que como um espirro
 “por Deus”
 que como um espirro
 - Juro.
 - Juro que a Ana Maria não me põe em cima da cama e me mostra as maminhas para eu mexer.
 - Quê, puto?
 o meu primo Ricardo
 - Quê, puto?
 obrigando-me a jurar de novo
 e eu
 “por Deus”
 (por quem mais)
 - Juro por Deus que não me deixa apertar assim…
 (a exemplificar com as mãos)
 deixando o meu primo Ricardo de boca à banda
 a jurar por Deus que
 - … nada a ninguém.
 - Juro.
 Afinal eu também jurara que ele
 quinze anos
 adulto
 portanto
 - … não fuma no quintal às escondidas, tia. Nem na garagem. Juro por Deus. 
 Afinal um segredo é um segredo!

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