- Olhe, desculpe! Eu sou do Barreiro e fui assaltado. Vim aqui à Loja do Cidadão tratar do bilhete de identidade
que vou para Espanha trabalhar daqui a duas semanas
o cunhado de um primo meu, que vive na Suiça, tem um restaurante em Sevilha e arranjou-me lá trabalho
e como o B.I. estava quase a caducar, vim aqui tratar disso
que lá no Barreiro demora muito mais tempo.
Mas enganei-me na saída do metro
que eu não conheço muito bem Lisboa
e saí ali no Martim Moniz.
Andei às voltas, às voltas a ver se dava com isto, até que lá me resolvi a perguntar alguém.
Olhe, foi a minha desgraça!
Três tipos disseram-me que também iam para lá
marroquinos, ou não sei
que tinham de tratar de uns papeis e que se quisesse podia ri com eles.
Na minha boa fé lá fui.
Se eu soubesse!
Meteram-se por umas ruas estreitas e depois lá por uns becos…
e eu a achar aquilo esquisito
até que às tantas, viraram-se a mim e, olhe
marcaram-me todo
tenho aqui na perna, no braço…
E agora estou desesperado.
Roubaram-me tudo.
Até o telemóvel.
Que senão ligava ao meu cunhado
que ele trabalha ali para o Prior Velho, ou Sete Rios, ou o que é que é
e ele vinha-me buscar
mas nem sei o número de cor
que uma pessoa agora habitua-se a guardar tudo no telemóvel.
Sacanas!
Ainda para mais a minha sobrinha faz anos hoje.
Dois aninhos!
Olhe, tinha uma fotografia dela na carteia. Até lha mostrava. Mariana. Chama-se mariana. E eu… olhe
estou todo dorido, minha senhora. E tenho a roupa toda suja, até me rasgaram o casaco
Sacanas, pá!
Estes não apanha a polícia. Tá quéto! Agora e fosse eu, ou a senhora…
Eu ainda pensei ir à polícia! Mas neste estado? Iam mesmo acreditar em mim. Tenho umas dores neste braço que nem imagina, minha senhora.
Até tenho vergonha de estar aqui a incomodar as pessoas. Ainda hão-de pensar que é para droga. E neste estado. Eu pensava o mesmo! Mas não é minha senhora. Juro que não é. Pela saúde da minha sobrinha, que é coisa que mais amo nesta vida.
Mas estou desesperado. Estou aqui há mais de uma hora para arranjar isto, minha senhora: um euro e meio. Mas neste estado quem é que me ajuda? Se a senhora pudesse. São só dez cêntimos que me faltam, minha senhora. Dez cêntimos para o bilhete.
Wednesday, April 01, 2009
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