Os movimentos irresolutos da nossa história em comum; um ranger de portas castigadas pelo vaivém das nossas incertas certezas; um
- Acabou-se!
tão seguro
tão determinado, tão determinístico
tão certo.
E se na curva do passeio, um som qualquer
trim
dling
qualquer
logo a mão à mala; ao bolso das calças
e um cuco cego num disparar de molas, cabeceando contra as costelas, procurando caminho para nos sair pela boca
porque de certeza que ele…
que ela…
Mas telemóvel algum
pelo menos na nossa mala
no bolso das nossas calças.
Até que por fim
Ti ri ri ri ri ri
na nossa mala
nas nossas calça
ele...
ela...
Porém
- Sim, mãe, eu não me esqueço!
- Népia, man, hoje não dá!
Até que um dia depois; sempre um dia depois. Quando o coração já arrítmico dos sobressaltos provocados pelos
trins
dlings
quaisquer
na curva do passeio
na nossa mala
no bolso das nossas calças
no mostrador do nosso telemóvel
um número conhecido, um nome, a embrulhar-nos o estômago como uma mão enorme. Um toque, dois, três… não mais, os suficientes para que do outro lado insegurança, os suficientes para aclarar a voz; os precisos para que a desistência não ocorra.
Um toque, dois, três
não mais
e um polegar ansioso a atender “distraído” num
- Estou?!
de quem: - “Oh, nem reparei no visor!”
distraído
de quem: - Oh, já nem me lembrava!”
- Estou?!
Cátia, Pedro
que importa!?
- Sou eu…
Cátia, Pedro
que importa!?
e um tempo suspenso, sem noção da necessidade de acrescentar
- Sou eu…
Cátia, Pedro
que importa!?
Enquanto do outro lado um
- Olá
Cátia
Pedro
cordial… amistoso… controlado: quase vazio de sentimento
- … como é que estás?
apesar de
um cuco cego
disparar de molas
contra as costelas
- Tudo bem. Olha, estou-te a ligar para te pedir uma cena.
- Diz.
- Hás-de ver se não deixei em tua casa o livro…
o dvd, o cd, a capa do telemóvel, a dentadura postiça da minha tetravó; o diabo que me carregue.
- Sim, está. Queres que to envie? - e um fazer de figas para que
- Não, deixa estar eu passo aí. Se não te importares, claro!
- Na boa!
Na boa, na boa, na boa, mil vezes na boa.
Ainda que, no entanto
- Mas quando é que querias passar por lá?
(porque por “lá” significa não estar agora em casa)
de pijama
deprimida
deprimido de roupão
e que a separação não nos amarrou de pulsos à cama com lenços de papel
embora no sofá, de pés debaixo da almofada, com o pijama dos ursinhos a que tu
- “Ficas tão querida!”
à frente da televisão, de pés nas pantufas de Koala a que tu
- “… tão querido!
a enchermo-nos de cigarros e de esperanças
de um chocolatito ou outro
a dizer
- …lá…
- …por casa?
porque não estamos nem aí, ainda que
um cuco cego
num disparar de molas… contra as costelas
a dizer
- Deixa-me ver. - como se ela muito que fazer. - Para a semana não me dá muito jeito.
(até porque uma semana é muito tempo e muita coisa pode acontecer… a contar pelo botões do comando)
- Achas que era possível passar por lá hoje?
- Hoje?
-Sim.
- Deixa-me ver. - como se ela, alguma coisa combinado; a contar pelos dedos dos pés, excitados debaixo da almofada. - Só se for lá para as sete. Por ti, pode ser?
- Perfeito.
Perfeito, perfeito, perfeito…
como
Na boa, na boa, na boa
num disparar de molas
num cabecear cego de cuco contra as costelas
(que bom!)
e nisto
- Então, vá, até logo Pedro.
e nisto
- Vá, até logo, Cátia.
e nisto
tudo a ficar certo
alinhavado, vá!
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