A moeda a cair
plim
no som que as moedas fazem, ou parece que fazem
como num desconjuro
plim
a moeda
a cair
na caixa invisível
e a cortina da cabine a subir devagar, a despir devagar a bailarina que
devagar
desapertando os atilhos da pouca roupa de trabalho.
Um gingar de corpo fingido
o gingar
o corpo não, que esse, bem sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos, abençoados sejam.
Um gingar de corpo, fingido, em movimentos de natação sincronizada, sem água nem vontade. Um rodar de cabeça, uma seara de trigo levantada por um vendaval, apenas na cabine, inviolável, unicamente acessível à custa de
plim
na caixa invisível, porque a cortina cansada a procurar repouso.
Plim
não como um desconjuro; como um reencontro feliz de moedas conhecidas.
Uma sera de trigo num rodopio de
- Trabalho é trabalho!
E uma mão a procurar o bolso
a procurar no bolso
não as moedas, que ainda agora caiu uma
plim
outra coisa
enquanto a seara de trigo a chegar-se à vitrine do talho
agora apenas um animal para abate, não uma bailarina de corpo sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos, abençoados sejam.
A faca afiada
não no bolso
na mão segura
E o animal a mostras-se todo - por dentro e por fora -, a bater-se, a apertar-se; a encolher-se, a esticar-se, sem mostrar os dentes, o mais importante.
E a faca num talhar de carne
Não no bolso
num deslizar de metal
plim, plim, plim
até que o animal exausto, a recolher, como a faca, romba de tanto esquartejar. Até que o animal a recolher ao curro e outro a sair para a arena. Maior, mais feliz, menos
- Trabalho é trabalho!
de corpo não tão sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos...
uma desconhecida a invadir-me a intimidade, e eu envergonhado porque
a faca
não no bolso
e eu envergonhado porque... diante de olhos estranhos…
a retirar-me também; a procurar qualquer coisa com um olhar clínico; a não procurar nada. Aliás, a procurar não encontar o olhar de mais nenhum outro comprador.
ainda que eles a desolharem do mesmo jeito
porque ali não havia gente
não havia ninguém, e o segredo a alma do negócio.
Assim, a retirar-me para a claridade do meio-dia, porque a hora de almoço quase no limite, enquanto nas minhas costas, um preto de balde e esfregona na mão, de cabine em cabine, a limpar restos de sangue que, como moedas
plim
pingados das facas num suspiro de morte
para o chão
plim
plim
plim.
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