Saturday, July 15, 2006

Plim

A moeda a cair

plim

no som que as moedas fazem, ou parece que fazem

como num desconjuro

plim

a moeda

a cair

na caixa invisível

e a cortina da cabine a subir devagar, a despir devagar a bailarina que

devagar

desapertando os atilhos da pouca roupa de trabalho.

Um gingar de corpo fingido

o gingar

o corpo não, que esse, bem sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos, abençoados sejam.

Um gingar de corpo, fingido, em movimentos de natação sincronizada, sem água nem vontade. Um rodar de cabeça, uma seara de trigo levantada por um vendaval, apenas na cabine, inviolável, unicamente acessível à custa de

plim

na caixa invisível, porque a cortina cansada a procurar repouso.

Plim

não como um desconjuro; como um reencontro feliz de moedas conhecidas.

Uma sera de trigo num rodopio de

- Trabalho é trabalho!

E uma mão a procurar o bolso

a procurar no bolso

não as moedas, que ainda agora caiu uma

plim

outra coisa

enquanto a seara de trigo a chegar-se à vitrine do talho

agora apenas um animal para abate, não uma bailarina de corpo sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos, abençoados sejam.

A faca afiada

não no bolso

na mão segura

E o animal a mostras-se todo - por dentro e por fora -, a bater-se, a apertar-se; a encolher-se, a esticar-se, sem mostrar os dentes, o mais importante.

E a faca num talhar de carne

Não no bolso

num deslizar de metal

plim, plim, plim

até que o animal exausto, a recolher, como a faca, romba de tanto esquartejar. Até que o animal a recolher ao curro e outro a sair para a arena. Maior, mais feliz, menos

- Trabalho é trabalho!

de corpo não tão sincero, graças a Deus e aos seus ricos paizinhos...

uma desconhecida a invadir-me a intimidade, e eu envergonhado porque

a faca

não no bolso

e eu envergonhado porque... diante de olhos estranhos…

a retirar-me também; a procurar qualquer coisa com um olhar clínico; a não procurar nada. Aliás, a procurar não encontar o olhar de mais nenhum outro comprador.

ainda que eles a desolharem do mesmo jeito

porque ali não havia gente

não havia ninguém, e o segredo a alma do negócio.

Assim, a retirar-me para a claridade do meio-dia, porque a hora de almoço quase no limite, enquanto nas minhas costas, um preto de balde e esfregona na mão, de cabine em cabine, a limpar restos de sangue que, como moedas

plim

pingados das facas num suspiro de morte

para o chão

plim

plim

plim.

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