Chegavas cansada de um dia cheio de anúncios e respostas vagas
- A vaga já foi preenchida.
- Entraremos em contacto.
- De qualquer das formas deixe-nos ficar o seu curriculum.
de pisar quanta pedra há no lagar da cidade e nem uma gota de sucesso sob os teus pés exaustos.
Entraste devagar, na pouca casa alugada com vista para as plantações de antenas dos telhados velhos de Alfama, onde o mundo termina e a cidade não entra
como nós por vezes não entramos em pequenas partes de nós, pois nem tudo quanto nos pertence nos dá acesso
e eu
a bater teclas
à procura de palavras incríveis, de frases que mais ninguém se havia lembrado, parágrafos de tirar o fôlego
ao passo que tu
nem uma gota de sucesso sob os teus pés
exaustos
por um pisar inútil de quanta pedra há no lagar da cidade.
Deixei-me a ouvir-te entrar, num desferrolhar de porta, no movimento calmo do teu tempero; no suspirar de mais um dia
(menos um dia)
no lagar da cidade
desmontei os óculos do nariz e fixei-te os olhos
exaustos
como os teus pés
felizes por estarem em casa
nesse lugar intermédio onde mundo termina e a cidade não entra.
Sorriste-me, ternamente, como da primeira vez que nasceste nos meus braços
tiraste os sapatos com os pés, e abandonaste-os à entrada
da pouca Alfama alugada com vista para cidade de antenas, onde o mundo não entra e onde os velhos telhados terminam nas plantações das casas de
sapatos
aparelhos de tortura que arrancaram qualquer confissão
emprego nenhum
- A vaga a ficar já foi contactada.
- Entrará de qualquer das formas.
- Deixe-nos preencher o seu curriculum.
mas emprego algum.
As contas a acumularem-se sobre o frigorífico delapidado, e eu a bater teclas à procura de palavras incríveis, de frases que mais ninguém se havia lembrado, parágrafos de tirar o fôlego
ao passo que tu
na minha direcção
descalça
(como só tu és bela)
e antes mesmo de eu
qualquer pergunta
tu
que o dia todo a pisar quanta pedra há no lagar da cidade e nem uma gota de sucesso sob os teus pés exaustos
descalços
descalça
(como só tu
bela)
tu
não eu
que sentado o dia todo
à procura de palavras… frases… parágrafos de tirar o fôlego
tu
a perguntar-me
- Então amor, como é que correu?
E eu com vontade de
- Tive uma ideia fantástica
ou
- Resolvi reformular aquela parte em que o assassino…
mas nada
nem uma linha que se aproveitasse
uma palavra; uma frase; um parágrafo de tirar o fôlego
e a sentir-me o mais egoísta dos homens
a olhar-te no silêncio dos amantes
a responder-te com um beijo que
“morri de saudades tuas”
que
“sem ti nenhuma palavra…
frase
parágrafo
… tem sentido”
que
“sem os teus olhos
os teus braços
as tuas coxas em torno de mim
num apertar de vontade
forte
os teus dedos a derreterem-se-me nos lábios
os teus lábios nos meus dedos
o teu pescoço cheio de segredos e arrepios
o teu cabelo suado na nuca
os teus pés
a minha boca…”
exaustos
de um dia cheio de pedras vagas e nem uma gota de resposta no pisar de anúncios de quanta cidade há no lagar do sucesso.
Palavras… frases… parágrafos?
nenhum sentido
sem ti
senti
saudades tuas
sentido nenhum
a dizer-te no encaixe silente do amor
do movimento calmo do teu tempero
não haver palavras
frases… parágrafos
que expressem a força dos teus olhos quando
no silêncio lânguido dos amantes
me dizem
- Ama-me, que estou morta de cansaço!
2 comments:
Ola maluco!É só mesmo para te dizer que estás a escrever cada vez melhor, sim senhora, temos artista! lolol estou a ver que isto da practica ate faz o monge (por falar nisso ja entras-te nalgum mosteiro aqui em lisboa?):p
Bjs grandes
P.S. quando puderes dá um saltinho no meu, nao sendo tao artistico como o teu claro! :p
Ola outra vez!Só depois de ter deixado este "belo" comentario é que reparei em kual dos textos o deixei, como tal, o unico cometario sobre este texto especifico, para nao haver enganos...é: "Oh meu amigozzzz...nao havia...necessidadezzz!" (ou sekalhar havia a necessidade! lolol
Bjs grandes maluco da distraida Mor (nao confundir com o autor Nor sff)
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